quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

MOMENTO DE CLAREZA

2.010 foi um ano de turbulências. Como costumo rir de minhas próprias desgraças, acho que como um cara de esquerda, comecei o ano com o pé esquerdo e encerrei com o pé mais à esquerda ainda. Comecei o ano passado com um problema de cara com um ser cavernícola, tosco, cru e brucutu, e a quem um dia minha casa já esteve de portas abertas, e acabei o ano vivendo da ajuda de amigos que me consideram e o qual não posso deixar de agradecer: CTM, Minerva Soto, Sérgio Bouez, Helio Dimanas, Paulo Medeiros, Clóvis Everton, Toninho Nogueira, Dr. Igor Cavalcante, Dome Araújo e o magnânimo Coronel Matos. À estas pessoas que sabendo de minha situação, deram aquele empurrão, meu muito obrigado. Às vezes vale a pena experimentar a ingratidão até encontrar seres humanos que sejam gratos.

Mas não era sobre isso que eu tava querendo falar na crônica de hoje. Não! Hoje pra mim é um dia especial e sobre o qual gostaria de compartir com os amigos leitores. O objetivo aqui hoje é fazer um balanço de tudo o que foi vivido nestes 44 anos de passagem por este universo de circunstâncias. Mas primeiro gostaria de aproveitar para pedir perdão à minha família pelo fato de não ter vencido na vida e por ter sido incapaz de ganhar dinheiro. Como eu gostaria de poder abraçar minha mulher e meus filhos e dizer que estou sofrendo por eles. Como gostaria de abraça-los e pedir-lhes desculpas pelos fracassos de minhas empreitadas nesta vida f#dida, ou ao menos lhes colocar a par do inútil que foi minhas batalhas, mas que nem por isso podemos deixar de batalhar, apesar da certeza das cacetadas da vida.

Sub-burguês traído pelo contrato social, mas com todos os grandes e pequenos vícios da burguesia, uma vez que todas as alternativas que me oferecem são alternativas burguesas, acho que jamais vou conseguir afastar de mim este remorso circunstancial. E do jeito que a vida quer vou seguindo aos trancos e barrancos, errando aqui, quebrando a cara ali e tocando em frente. Acho que hoje eu diria para meus filhos o seguinte: “Gostaria de ter sido aquele paizão amigo que poderia... olha, que poderia... ora, sei lá c#ralho... o pai que eu deveria ser”.

Outro dia repreendi um amigo que resolveu virar hippie depois dos 40 e recebi uma lição de moral que nunca mais vou esquecer: - Mas quem é você pra falar da minha maconha com este copo de cerveja na mão? No mesmo instante saquei que havia dado uma ratada. Ele me chamara de hipócrita e estava com toda razão. Uma vez posta nua e crua a verdade, escancarou-se o problema da hermenêutica: um oceano de remorsos submergiu-me à consciência. Comecei a desenhar meu auto-retrato: Arrogante? Sou. Boçal? Também. E metido à besta, pedante, vaidoso, invejoso, ansioso, nervoso, imoral, pervertido, anti-social, mal-educado, pessimista, preguiçoso, raivoso, mesquinho, ignorante, cheio de exaltação própria e chegado num goró, biritado, bêbado. Rapaz, quando me deparei com a fotografia, me assustei com a imagem. Tô f#dido! Como é que vou superar este exército maligno e negativo que habita em mim? Eu desisto!

Hoje estou pagando pelos meus pecados. Fracassei em tudo que tentei na vida, mas ainda assim continuo achando que estes fracassos são minhas vitórias, uma vez que eu iria detestar estar no lugar daqueles que me venceram.