Uma vez passada a ressaca de pão e circo regada às custas de eventos que recebem dinheiro público tipo festas de rodeio da Acrivale, festivais de bumba-meu-boi e feiras multi-setoriais onde os pobres puderam observar ao vivo e a cores a gastança esnobe dos metidos a besta, é chegada a hora de colocar os pés no chão e voltar nossa atenção para a cidade, que salvo essas enganações, continua indo de mal a pior. O que se vê hoje dentro do ambiente político é um acomodamento das entidades em geral, mas sobretudo da administração municipal.
Fizeram-se as mudanças em alguns setores de gerência da administração cujos anúncios efusivos propagandeados através dos programas de rádio deram a entender que tudo aqui vai de vento em popa, às mil maravilhas, não há desemprego, o atendimento no Hospital Regional vai muito bem, temos médicos especializados até para curar dor de corno, remédios não faltam, assim como também acabaram as filas para a morte que nos espera na entrada da rampa do necrotério no final do corredor dos enfermos à direita.
Não se enganem não, tudo isso continua apesar das mudanças. Mas aproveito um gancho na matéria para dar meus parabéns aos médicos deste hospital que na cara e na coragem, estão prestando um grande serviço para a saúde pública de Guajará-Mirim sem nenhuma estrutura de logística. É sabido que o ambiente ali é de um hospital de guerra, a começar pela falta de medicamentos, passando pela total ausência dos responsáveis para dar sequer uma satisfação para a população, até chegar aos pacientes que gemendo de dores, aguardam para serem atendidos, abandonados e humilhados.
Enquanto o povo não tem acesso ao que lhe é de direito, as entidades que deveriam fazer alguma coisa em prol da solução desses problemas, como uma máfia, preferem agir em forma de cartel para desviar o foco das questões essenciais do município e daí resolvem encobrir nossas mazelas com festanças. E dá-lhe Bumba-meu-boi, bailão de fazendeiros, festival de praia e o diabo-a-quatro. E o pior é o nosso povo que se deixa levar por conversas desta gente que parecem ter lábia até para vender areia para deserto, água para o Rio Mamoré e paisagem para cego.
Quem nunca leu que na Roma antiga tinha aqueles gladiadores se matando, davam os cristãos para as feras comerem naquele circo enorme que o nome era coliseu. Que os Césares, inclusive o Nero que era baitola, ficava colocando o polegar para cima e para baixo somente para que o povo tivesse diversão todos os dias e esquecesse a fome e a miséria que passava? Porque esse negócio de não ter escola, saúde, emprego, bem estar social, porcaria nenhuma que a constituição diz que a gente tem direito já vem de lá há muito tempo. Não muda nada neste filme, a não ser os artistas.
A verdade é esta: somos um povo sem nenhuma idéia política, sem nenhuma cultura sólida. Quantas oportunidades se perderam por acomodação de lutar contra o principal mal que assola Guajará-Mirim: os políticos e suas enganações. Enquanto o nosso povo continuar a se contentar com invólucros vazios, vai trocar pela vida inteira ilusões por verdades. Ou vice-versa.