Ainda que ninguém vá dar muita atenção para o que vou dizer, quero na coluna de hoje discrepar do ilustre colega Dom Sierra Tigre no tocante ao artigo “A fé remove montanhas” da semana passada. O que li ali foi um dicionário de citações de auto-ajuda e lugares-comuns filosóficos religiosos. Uma associação de missa das seis com crendices de seguidor de procissão. Mas o que mais me surpreendeu na epístola é como um cara que até acho coerente naquilo que escreve conserve essa crença de 2.000 anos atrasada. Religião não se discute? Como não? Verdade absoluta? Vamos discutir.
Pra começar quero deixar explícito que a existência ou não de Deus não vai mudar em nada o acontecer dos fatos. Se ele não existir, como acho que não existe, o nosso mundo vai continuar sendo este inferno em que estamos vivendo. E se ele existir, com certeza não vai ser um canalha pra se preocupar com os meus ridículos pecados amorais e clandestinos do passado. Se Deus existir, ele irá atrás de presas maiores e que causaram dor, morte e sofrimento para uma porrada de gente, não apenas para dois ou três maridos desafortunados, mas para milhões de pessoas como Hitler, Stalin, Idi Amin Dada, George Bush, Collor de Mello e FHC, o nosso pilantra maior.
Quanto ao quesito religião, hoje qualquer um que tenha uma cultura independente sabe que cientificamente um planeta como o nosso tem bilhões de anos, mas a Bíblia sagrada garante que o planeta Terra foi criado por Deus em sete dias e que tem apenas 10.000 anos. A superstição e a fantasia sim, vem desta época. Nesta época remota o Homem quando não conseguiu decifrar os fenômenos da natureza (os raios, trovões, as chuvas, tempestades, meteoros e eclipses) inventou Deus para suprir sua ignorância. De lá para cá o fato é que por causa da ignorância do povo nós temos que carregar Deus nas costas pelos restos dos nossos dias.
Quanto a questão da ignorância, nem é preciso dizer que a religião foi responsável pelo maior atraso intelectual que já houve na face da Terra. A igreja foi contra as teorias de Galileu, pois segundo ela o Sol não poderia ser o centro do universo. Este lugar perfeito, segundo ela, era a Terra, obra de Deus. Foi contra a datação do mundo, o estudo da anatomia em cadáveres e foi contra a invenção do Para-raio, pois para ela as descargas elétricas eram resultado da fúria de Deus pelos pecados do Homem.
O pior de tudo é que para manter seu rebanho sob açoite desta ignorância, a igreja se sujeitou até a deixar um extenso rastro de sangue de envergonhar até os mais ingênuos dos crentes. Exemplos: as cruzadas dos Cristãos, a expansão islâmica à base da espada, a briga entre religiões na Irlanda do Norte, homens-bombas no Irã, Iraque, Sri-Lanka, Paquistão e o escambau.
Em suma, acho que a ausência de uma explicação natural não implica necessariamente numa explicação sobrenatural. Nada contra o escriba da página ao lado, que aliás acho que teve a melhor das intenções naquilo que escreveu, muito embora com a cegueira da fé. Que desperdício. Tivesse no Tibet ou no Himalaia, fosse budista ou muçulmano, nas utópicas cantilenas da religião, mudaria apenas o nome do mito a ser idolatrado: Buda, Maomé ou outro qualquer. Sem querer comparar e com todo o respeito. Palavras, palavras, nada mais...