segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

TACADA DE MESTRE

O plenário da Câmara Municipal esteve superlotado na primeira manhã do ano recém-parido. Nunca em toda a história de Guajará-Mirim, a câmara conseguiu concentrar tanta multidão. Nunca em toda a epopéia guajaramirense uma presidência da câmara de vereadores foi tão cobiçada tanto pelos próprios adversários de litígio como por puxa-sacos oficiais, radialistas de ambos os lados, prefeito, vice-prefeito, deputado, senador e até o governo maior à nível de Estado.

Houve pressão por todos os lados. Fontes fidedignas nos dão conta de que não houve respeito nem com os sentimentos de luto e pesar da família de um vereador quando da morte do pai do mesmo. Entre as exéquias e o enterro houve propostas de cargos, oferta de dinheiro - 50 mil pratas em espécie, segundo a fonte – e até a proposição de uma nova chapa tendo este vereador na cabeça como candidato à presidência daquela casa de leis. Paus-mandados à serviço de outras instâncias de governo também tentaram de todas as formas tumultuar a sessão de posse e pressionar outros vereadores.

Mas de nada adiantou ludibriar o povo com conversa fiada, caminhões para carregar gente, pressão popular através de programas radiofônicos, clamores “por justiça” de alta demagogia e mentiras e invencionices de alta costura. No final das contas o rumor dos tambores anunciou a vitória por excelência e mérito próprio do Dr. Célio Targino, que revelou-se um exímio mestre em estratégia política e um articulador de alta tarimba. Mais que isso: ao derrotar seu oponente nesta queda-de-braço, o já sacramentado presidente da nova câmara de vereadores também passou um rolo compressor em toda uma hegemonia dotada de altos poderes e que acredita piamente que fazer política é a mesma coisa que dirigir um povo como se fosse uma boiada, rebanho, peãozada. Política é a arte de conversar, se entender, dialogar, debater idéias e divergências, resolver diferenças e criar ações e atitudes e não conchavos e gambiarras.

O que ninguém conseguiu engolir até hoje, por mais que ela tentasse explicar de todas as formas possíveis, foi o sufrágio da vereadora Marileth Soares do PT que sempre defendeu as bandeiras contra o governo do Estado, e que de uma hora para outra se bandeou para as hostes de um títere do próprio governo que sempre criticou. A julgar pela legenda que defendia princípios éticos e morais, todos pensavam que esta vereadora fosse no mínimo se abster de sua votação e não votar no candidato fantoche do governo de plantão. Decepção total por parte do deputado Miguel Sena que esperava abocanhar mais uma fonte de vantagens no oba-oba dos poderes. Saiu daquela casa vaiado em uníssono coro de “xô Miguel, xô Miguel...”

Guajará-Mirim hoje está precisando de uma melhor compreensão de seus problemas, do que fomos e deixamos de fazer nos últimos anos e não de quermesses politiqueiras de palanque. Tem que haver equilíbrio entre os poderes. Essa independência, mas que um direito é uma obrigação. Senão vira matriz e filial, conta-conjunta, máfia, caverna dos 40 ladrões. Caberá agora ao Dr. Célio com todo o seu “norrau” da polis (a cidade e seu povo) e do logos (a razão política) conduzir os rumos daquela casa do povo, pois é sabido que a política não depende só dos políticos, mas sim de todos os membros da sociedade.