Uma vez dada a passagem desta grande cruzada dos crentes do Evangelho através de shows de cantores gospels, palestras de pastores televisivos e focos contagiosos de igrejas que procuram converter pela força da pregação com cores de lavagem cerebral, pessoas sem discernimento crítico ou raciocínio lógico, de suas crenças sobrenaturais; epidemia esta que parece afetar até alguns programas de rádio-jornalismo de nossa cidade, como se o bom jornalismo fosse depender de bênçãos celestiais, é chegada a hora de alguém livre de superstições, ignorâncias, crendices e “rezas- brabas” falar algo a respeito deste sinistro que em pleno século 21 parece estar querendo refazer mais uma época de caça às bruxas.
Para quem tá por fora, é mister pôr em realce que a época da caça às bruxas foi o período mais obscuro da história da humanidade. Foram pelo menos mil anos de atraso, medo, escuridão e ignorância sob a sustentação da igreja que foi responsável por matanças, carnificinas e genocídios pelo mundo afora, assim como também perseguiu e condenou à fogueira muita gente boa entre filósofos, inventores e cientistas que apenas ousaram estar a frente de seu tempo ao questionar o universo pelas leis da razão e não da superstição e das fantasias bíblicas. Esta época chamada Idade das trevas só teve fim com a chegada do iluminismo, cuja maior conquista foi exatamente a de libertar a mente humana da submissão aos dogmas impostos pelas igrejas.
O filósofo inglês Bertrand Russel dizia que toda religião quando não é fútil é prejudicial. Me considero um homem de fé e ao mesmo tempo não tenho nenhuma convicção de ordem religiosa. Sou cético na medida em que coloco uma prudente distância entre mim e estas igrejas, e ao mesmo tempo sou um homem de fé porque acredito no caráter e no destino do homem que um dia vai acabar por vencer seus algozes e descobrir a verdade que a hipocrisia teima em esconder graças aos porta-vozes da mentira a serviço do sistema de senhores e escravos que diz que os últimos devem sofrer aqui na terra para serem recompensados num imaginário reino dos céus. Sempre achei que os lugares mais quentes do inferno estão reservados para aqueles que se dizem pastores profissionais e cujas igrejas não passam de arapucas para tirar um pouco do quase nada do que ganham os humildes. Por isso é que sem qualquer fé em Deus, sempre busquei as respostas no invencível espírito humano e na sua habilidade de sobreviver enquanto carrega fardos insuportáveis.
Outra coisa que jamais irei concordar é com as pessoas que são chegadas numa religião, sejam crentes ou católicos, que procuram de todas as formas nos convencer da correção de suas crenças. Até compreendo que é um direito deles. Mas eles também não tem o direito de tentar impor pela força da coerção a sua crença como se fosse verdade absoluta aos outros.
Last but not least, acho que qualquer religião, em princípio se considera dona absoluta da verdade. A que é pregada por essas igrejas então, vou te contar... Os tempos atuais recomendam respeito ao próximo e tolerância. Isso significa aceitar que o outro também tem lá suas razões, ou seja, outra verdade da vida. Como é que fica então a minha verdade única se eu aceito a do outro? Taí exposto o mal estar que gera este impasse. Eis aí o “mistério da fé” em detrimento da razão lógica.